Qual o meio de destruir o egoísmo?


Antes da resposta do Espírito da Verdade deixe-me fazer um pequeno comentário. Preste bem atenção ao que vamos falar agora porque se o egoísmo é a determinante do seu nível de elevação espiritual, a ascensão só acontecerá com a destruição dele. Portanto, o que falaremos agora é fundamental para aquele que pretende aproveitar esta encarnação. Só quando compreendemos profundamente a questão do egoísmo e da retirada da hipocrisia que comentei anteriormente (dizer que faz por amor e justiça quando apenas quer a submissão) poderemos realmente realizar o trabalho da reforma íntima. Sem esta ação moralizadora verdadeira o espírito se ilude durante a sua existência carnal achando que está fazendo o “certo”. Só depois do desencarne percebe a intenção egoísta com a qual vivenciou os atos de sua vida, mas aí já é tarde para alcançar a reforma íntima. Costumo dizer que na luta contra o ego (elemento que cria a ação egoísta) é preciso mirar no general e não nos soldados. O supremo comandante do ego é o egoísmo que cria vários soldados (vaidade, ganância, soberba) para combaterem o espírito. Este general, no entanto, está camuflado pelas próprias ilusões de “certo” e “errado” que o ego criou e por isso não é localizado. O espírito, então, luta contra os soldados, mas não ataca o comandante. O ego permite que o espírito faça isso e até que vença alguns de seus subordinados, para poder proteger-se no anonimato e continuar agindo nos subterrâneos da intenção dos seres sem ser percebido. Neste trecho iremos mirar no general do seu ego (nos seus padrões de “certo” e “errado”) e não ficar atirando em soldadinhos que são peões nesta batalha. Iremos tratar o cancro que causa a ferida e não tratar dos efeitos que ele provoca. Como a resposta de Fénelon é grande e aborda diversos aspectos, a estudaremos em partes. De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pode libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo decorre da materialidade, nos ensina o amigo espiritual. Já estudamos anteriormente o tema “materialidade” e definimos que ela não se consiste em estar ligado a uma massa carnal, mas acontece quando o ser universal encontra-se ligado a um ego humano. Portanto, o egoísmo surge e é natural no espírito quando ele está ligado a um ego humano. Sendo assim, enquanto houver a ligação com o ego, a intenção que o ser humanizado terá será sempre fundamentada no egoísmo. Não importa a que ato estejamos nos referindo, vivenciá-lo subordinado aos padrões ditados pelo ego é ter a intenção baseada no egoísmo. Seja na aplicação das leis humanas, seja nos padrões organizacionais de uma sociedade, seja na orientação do próximo sobre o que é “certo” (educar), enquanto o ser universal estiver humanizado (submisso aos padrões ditados pelo ego) o egoísmo ocorrerá. Não importa que você “ache” que esteja “certo” ou até que a grande maioria concorde com você; se aplicar o que você acha que deveria estar acontecendo para julgar a atitude do próximo ocorreu um egoísmo e não uma justiça ou um amor. Mas você não vê assim. Acredita que o acatamento às leis humanas deve ocorrer, que os padrões organizacionais de uma sociedade precisam ser respeitados, que você deve “educar’” os outros para eles ajam de forma “certa”. Mas quem disse isso? As leis humanas são temporárias e individualizadas; as organizações sociais são extremamente diferenciadas de acordo com cada povo; o que você acha “certo” já se modificou milhares de vezes durante essa existência. Ou seja, nada disso é universal; e tudo que não é universal é ilusório, individual. As leis que você acha “certa” são ilusórias, as organizações sociais que você imagina que todos têm que se submeter são ilusões, tudo que você acredita como “certo” mudará quando se libertar dos padrões impostos pelo ego. Portanto, exigir agora o cumprimento destes padrões ao próximo é submeter-se ao ego o que, naturalmente, leva ao egoísmo. Enfim, ter um padrão, seja sobre que assunto for, de “certo” ou “errado”, “bonito” ou “feio”, gera automaticamente a presença do egoísmo, porque ele se consiste na cobrança de que o próximo atenda o seu padrão. É por isso que Buda chama os padrões de paixões. Você é verdadeiramente apaixonado pelos seus padrões de “certo” e “errado” e desta paixão surge, então, o desejo do cumprimento daquilo que você acha “certo” e o desejo da não existência daquilo que você acha “errado”. Ou seja, o egoísmo em ação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas. Dois aspectos a analisarmos neste trecho. Primeiro: o egoísmo acaba com a elevação moral. Se o egoísmo é contrário à elevação espiritual e se ele é fundamentado no “eu”, a elevação moral se consiste em buscar o “nós”. A partir daí pergunto: o que é elevar-se moralmente? Certamente não tem nada a ver com não fazer aborto, com não matar, ou seja, não está vinculada a padrões humanos. A elevação moral ocorre apenas quando o ser humanizado abandona o “eu” e vive o “nós”, não tendo importância que atos ele pratique. O “nós” a que estamos nos referindo é aquele que é alcançado pela fusão perfeita de todos, ou seja, quando todos tiverem direitos iguais. Sendo assim, a elevação moral é alcançada quando cada um tiver o direito de ser, estar e fazer o que quiser e você não o julgue por isso. Segundo aspecto destacado por Fénelon: o espiritismo lhe ensina a Realidade. Para podermos entender isso vamos ver que Realidade o Espiritismo nos ensina. Em primeiro lugar o Espiritismo diz que você é um espírito. Encarnado, ligado a um ego, mas que não deixa de ser um espírito. Isso fica bem claro numa série de perguntas que já estudamos, mas para relembrar vou citá-las. O que era a alma antes de encarnar? Espírito. O que voltará a ser a alma depois de desencarna? Espírito. “Estar alma”, ou seja, encarnado, portanto, não acaba com nossa essência Real (espírito), mas apenas destaca uma condição especial temporária de vivência (estar ligado a um ego). Segunda Realidade que o Espiritismo ensina: há uma interação entre mundo espiritual e material a tal ponto que nada acontece neste mundo sem a interseção dos espíritos. Como esta Realidade criada pelo Espiritismo nem sempre é aceita pelo ego humanizado, vou citar textualmente o comentário de Kardec aos ensinamentos do Espírito da Verdade. “Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se escuta com o concurso deles”. “Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio” (pergunta 525 a). Nas perguntas seguintes (526 a 528) esta Realidade fica muito mais clara quando o Espírito da Verdade mostra que os espíritos conduzirão o homem que deve sucumbir para uma escada quebrada ou para debaixo da árvore onde o raio cairá. Isto acontece deste jeito porque os espíritos fora da carne não podem alterar o curso dos elementos da natureza, mas dirigem o homem para que lhe aconteça o que está previsto. Cita ainda esta parte do estudo de O Livro dos Espíritos que aquele que não deve morrer de uma bala perdida será inspirado para se desviar, já que os trabalhadores do Senhor não podem desviar a bala para salvar o homem. Esta é a Realidade que o Espiritismo ensina: os espíritos comandam as ações do ser humano ao invés de, como mágicos, agirem sobre os elementos da natureza. Este conhecimento deveria lhe levar, nas palavras de Fénelon a acabar com a ficção alegórica que você vivencia e chama de realidade, verdade. A sua realidade não tem nada de Real, pois você não percebe toda movimentação dos amigos espirituais guiando seus passos, mas imagina que age por moto próprio. Krishna define a realidade que o ser humanizado vive como fantasias fantasmagóricas. Ou seja, os dois mestres têm a mesma compreensão sobre aquilo que você vive como real: uma ficção, uma fantasia. Olhe agora para o computador à sua frente. Você está vendo um monitor que está projetando uma imagem? Esta percepção é uma ficção alegórica, uma fantasia fantasmagórica. O que está à sua frente na realidade é fluído cósmico universal. Você está vendo agora um inimigo, alguém de quem não goste? Isto é uma ilusão, uma ficção alegórica, porque não há um ser humano à sua frente, mas um espírito encarnado. A sua compreensão de que ele está agindo contra você também é uma ficção porque ninguém pratica atos, mas cumpre ações guiadas pelos amigos espirituais a partir do mundo dos espíritos. Então veja. Não é só hinduismo que fala, mas também o Espiritismo diz que você vive uma peça de teatro chamada “Divina Comédia Humana”, como realidade, mas que ela não passa de uma ficção alegórica, de fantasias fantasmagóricas. Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. Quando bem entendido e identificado o Espiritismo poderá surtir algum resultado na sua elevação espiritual. Antes, não. Que adianta você dizer que compreende os ensinamentos de O Livro dos Espíritos; que adianta você dizer que se identifica com os ensinamentos trazidos pelo Espírito da Verdade, se ainda chora em um enterro acreditando que seu ente querido acabou? Que adianta dizer que se identifica com estes ensinamentos se eles afirmam que os espíritos nos guiam, que ninguém morre antes da hora e que Deus sabe a forma como cada um vai desencarnar (pergunta 853 a) se você ainda acredita num assassinato praticado por um assassino? Não adianta estudar: é preciso compreender e se identificar com a Realidade criada pelo ensinamento. Mas, para criar esta Realidade é preciso se libertar do individualismo. Sem isso, o próprio egoísmo que criará uma interpretação individual de O Livro dos Espíritos e dirá que você é que está “certo”. Neste caso você não mudou nada, não reformou nada, porque a base, a essência da intencionalidade continua o que você acha está “certo” e o que os outros acham “que se dane”. Esta palavra parece forte, mas é preciso compreender que quando nos apegamos somente àquilo que acreditamos como “certo” e não damos aos outros o direito de pensar diferente em qualquer aspecto da vida, estamos demonstrando o nosso menosprezo pelo irmão. Repare que, como Fénelon, falei em todos os aspectos da vida e não só naqueles que você quer alterar. Este é o aspecto que precisa ser atentado por quem quer atacar diretamente o general.

http://meeu.informe.com/0917-qual-o-meio-de-destruir-se-o-egon-smo-dt163.html

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