O perispírito kardequiano e os 7 corpos orientais


Segue uma proposta de comparação (‘paralelos’) entre modelos descritivos da estrutura espiritual do homem: os modelos de matizes orientais e modelo kardequiano (oriundo da Codificação Espírita, com ‘complementos’ trazidos posteriormente, principalmente, pelo André Luiz, via Chico Xavier, na série que é iniciada pelo livro ‘Nosso Lar’).

Certamente, tal comparação não possui a MENOR intenção de ‘confronto’, tipo “uma é melhor, ou pior, que a outra”. 

Vejo cada doutrina/religião fornecendo um ‘modelo descritivo’ próprio da espiritualidade, do ‘lado de lá’. Assim, tem-se vários modelos diferentes, cada um deles ‘moldado’ para alcançar objetivos específicos da sua doutrina/religião. Entretanto, TODOS esses modelos falam da MESMA coisa, da mesma realidade extra-física. Mudam-se as posições de observação, os focos, os ângulos de vista, mas a realidade apreciada é uma apenas.

Como exemplo rápido, a Teologia Católica coloca, em seu modelo, o homem sendo constituído de dois corpos apenas: o físico e sua ‘alma’ (e, acima de tudo e de todos, Deus). Neste modelo, são fornecidas parcas informações sobre a ‘alma’, pois o foco do Catolicismo é o comportamento (de seus adeptos) no plano físico ‘apenas’. (claro, falo do verdadeiro Catolicismo, já distante do que padres ‘paróquias a fora’ fazem dele na prática...)
Modelo kardequiano

Quando li a Codificação Espírita, já havia percorrido literatura de cunho oriental, notadamente do Budhismo, do Vedantismo e da Teosofia.

O que mais me chamou a atenção na Doutrina Espírita foi a proposta de melhoramento pessoal por ela proposta, baseada principalmente na evolução via melhoramento do aspecto MORAL do indivíduo (certamente o mais importante, e necessário, na atualidade). Também fiquei encantado como o seu ‘modelo’ se adapta como uma luva à ‘mente ocidental’. Trabalho brilhante!

Dentro da minha ‘leitura’ da Codificação Espírita, não verifiquei muita preocupação em ‘desenhar’, em descrever minuciosamente a realidade extra-física. Exceção, é bom citar, foi o excelente trabalho de ‘esmiuçamento’ do tema mediunidade; e utilizando uma metodologia de cunho científico, uma ‘novidade’ em abordagem de temas espirituais à época (século XIX) e ao contexto (Europa, França).

Em poucas palavras, não percebi uma preocupação em fazer da Codificação um “super tratado de meta-física”. (sempre lembrando que isso não desmerece em nada o valor da Codificação Espírita!)

Assim, quanto a uma descrição mais detalhada do extra-físico, ficaram muitos pontos faltantes, ‘lacunas’ mesmo. Tais ‘lacunas’ seriam (no meu entender, era essa mesma a proposta implícita na codificação Espírita) posteriormente preenchidas por outros autores espirituais, ou mesmo pela Ciência Oficial.

Aí entram autores como André Luiz, que, ao contar pelo que ele passou, foi preenchendo essas ‘lacunas’ no quesito DESCRITIVO do ‘lado de lá’. Pessoalmente, vou mais longe ainda, como que propondo uma ‘sequência’ André Luiz seguido de Ramatis como ‘preenchedores’ de detalhes descritivos deixados para depois pela Codificação Espírita 



Assim, dentro do modelo kardequiano tem-se o perispírito, conceituado como o “laço” (semi-material) que liga o Espírito com o corpo de carne, o corpo físico, e amplamente entendido como uma espécie de ‘corpos espiritual’. 

A Codificação Espírita, aos meus olhos, pincela a existência do duplo-etérico, como que deixando “pistas”. Já André Luiz fala mais dele, e também de um ‘corpo mental’, utilizado pelo Espírito em ‘planos mais elevados’, ou ‘mais sutis’, já no seu primeiro livro (quando descreve Espíritos de outros planos, como sua própria mãe, com “vestes bem mais sutis” que as suas, e em “regiões inacessíveis”, ainda, para ele).

Quanto aos planos de existência, a Codificação Espírita é bem sucinta: apenas fala do material (plano físico) e do ‘lado de lá’ (plano espiritual), que Kardec denominou de ‘erraticidade’. Pessoalmente, achei meio infeliz tal denominação, mesmo dando desconto à época em que foi cunhada. O termo ‘errante’, na concepção atual, abrange apenas uma parte dos espíritos desencarnados, podendo existir aqueles que não estão “errando”, mas sim bem consciente de onde se encontram, e de sua condição. Mas enfim, tal não passa de terminologias...




Modelos orientais

Agora, no outro ‘lado do mundo’, no lado oriental, tem-se uma variedade absurda de denominações e de modelos! Entretanto, todos eles falam em 7 planos de existência (ou de consciência), e de 7 ‘corpos’, sendo cada corpo preparado para a manifestação do Espírito em cada um dos 7 planos. Noutras palavras, é ‘construído’ um corpo para cada plano em que o Espírito manifestar-se-á.

Como existem várias denominações, e modelos algo diferentes entre si (apesar de todos possuírem a mesma idéia geral), escolhi um modelo adotado pela Blavatksy, seguido pela Annie Besant e Alice A. Bailey, autores da Teosofia que gosto. Procurarei também referir-me ao planos pelos seus números, tentando fugir das variações terminológicas (que mais confundem do que esclarecem)

Seguem então os planos, com os respectivos corpos utilizados em cada plano, em ordem decrescente de sutileza (do mais sutil para o mais denso)

plano 1: Adi, sede do ‘Divino’

plano 2: Anupadaka, sede da Mônada, da ‘Centelha Divina’, que manifesta-se por meio da ‘Trindade Superior’, ou dos seus 3 aspectos fundamentais (as três expressões fundamentais da consciência): 

– Sat, Vontade (ou Felicidade pura) , imprimindo no mundo ‘rupa’ (com formas) a propriedade da inércia (’Tamas’), a capacidade de resistência, de estabilidade

– Chit, Sabedoria (ou Amor puro), imprimindo nos mundos ‘rupa’ a propriedade de vibração, harmonia (’Satva’)

– Ananda, Atividade (ou divina Atividade), imprimindo no mundo ‘rupa’ a propriedade da mobilidade (’Rajas’), de responsividade à ação


plano 3: Atma (Éter), “reflexo” do aspecto ‘Vontade’ da Trindade Superior – o Destruidor das formas (Ichchha), o ‘Shiva’ dos hindus, o Pai dos cristãos

plano 4: Budhi (Ar), “reflexo” do aspecto ‘Sabedoria’ da Trindade Superior – a Razão preservadora e ordenadora (Jnana), o ‘Vishnu’ dos hindus, o Filho dos cristãos (‘budhi’ significa, literalmente em sânscrito, conhecimento (gnose), mas muito distante do que nós, ocidentais, entendemos como ‘conhecer’, lembro)
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plano 5: Manas (Fogo), “reflexo” do aspecto ‘Atividade’ da Trindade Superior – a Mente criadora (Kriya), o ‘Brahma’ dos hindus, o Espírito Santo dos cristãos (‘manas’ significa, literalmente em sânscrito, mente, mas muito distante do que nós, ocidentais, entendemos como ‘mente’, lembro)


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Quando digo mundo ‘rupa’, refiro-me aos planos de existência nos quais existe uma forma (algo como um contorno) separando o ‘interior’ do ‘exterior’, o ‘eu’ do ‘não-eu’, o ‘meu’ do ‘não-meu’. Nos planos mais elevados, não existiriam essas ‘formas separadoras’, as quais somente existem do plano 6 ‘para baixo’ (na realidade a forma começa a existir ainda no plano 5, em suas ‘camadas’ menos sutis, como ver-se-á adiante). 

A Mônada (Centelha Divina), que ‘vive’ no mundo arupa (sem formas), realiza sua ‘descida’ (a plano inferiores) exatamente para adquirir auto-consciência (consciência de si mesmo) através de comparações com o ‘não-eu’ (”somente pode-se conhecer a luz se houver sombras”, diz um antigo ditado oriental).

Aqui lembro que Kardec coloca o Espírito sendo ‘criado’ “simples e ignorante” (LE, 115), e comparo o Espírito (kardequiano) ‘recém-criado’ como a Mônada (Centelha Divina) em vias de “descer” a planos inferiores à procura de conhecimentos.

Tal comparação, (o Espírito kardequiano ‘recém criado’ sendo a Mônada teosófica ‘ainda virgem’) vejo-a como razoável, posto as doutrinas orientais afirmarem categoricamente que ”nada se pode falar sobre como a Centelha Divina ‘aparece’ no plano 2, a partir do plano 1, o ‘Divino’”, corroborando com a resposta dada pelos Espíritos ao questionamento de como Deus cria os Espíritos (LE, 78): ” Mas quando e como cada um de nós foi criado, repito, ninguém o sabe: esse é o mistério.”.


Quanto ao termo ‘corpo’, este é, à rigor, inadequado, posto só possuir sentido onde existem formas separando dois corpos distintos (no mundo ‘rupa’). Tanto que muitos autores preferem outras expressões, em vez de ‘corpo’, para se expressarem (faixas vibracionais, estados conscienciais, etc)




Por fim, assim como o termo ‘corpo’, o termo ‘plano’ é também inadequado (porém como já muito utilizado, continua-se utilizando-o). Principalmente pela falsa idéia que passa, a de que são planos ‘superpostos’. Na realidade, os planos se interpenetram. Exemplificando, nós, aqui encarnados, não usamos apenas o corpo físico, mas usamos fazemos uso simultaneamente do corpo físico e de todos os demais corpos, cada um ‘vibrando’ em um plano específico. Apenas ocorre que, enquanto encarnados, nossa consciência está focada no plano físico. Assim, seria como se não percebêssemos a existência desses outros corpos em outros planos, e realmente não os percebemos pois os sentidos físicos não ‘os alcançam’ (exceção à regra é a mediunidade, onde alguns planos são percebidos pelo médium).

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plano 6: Kama (Água), sede das emoções (‘kama’ significa, literalmente em sânscrito, emoção); o ‘plano astral’ ou a ‘erraticidade’ de Kardec, onde o Espírito (Mônada) manifesta-se através do corpo popularmente conhecido como ’corpo astral’ (“corpo das emoções”), que relaciono com o ‘perispírito’, assim denominado por Kardec no LE

plano 7: Sthula (Terra), o nosso plano físico; onde o Espírito (Mônada), agora já ‘completamente encarnado’, manifesta-se através do nosso conhecido corpo físico (incluindo aí o duplo-etérico, como ver-se-á a seguir)


Didaticamente, sub-divide-se cada plano em 7 sub-planos, numa tentativa de explicitar a variação vibracional dentro de cada plano (a vibração não dá ’saltos’ de um plano para outro, mas varia num ‘continum’).

Mais acima, disse que o mundo ‘rupa’ começava ainda no plano 5 (‘Manas’), nas suas ‘camadas menos sutis’. Pois bem, dividindo-se (didaticamene) o plano 5 (‘Manas’) em 7 camadas, nas 3 mais densas (ou mais sutis, mais ‘próximas’ do plano seguinte, o sexto) a forma já existe, começando aí o mundo ‘rupa’. A estas três camadas, vários autores preferem denominá-las como um corpo específico: ‘corpo causal’, ‘corpo mental-concreto’ (o corpo 5, Manas, sendo então denominando como ‘corpo mental-abstrato’), etc etc. Lembro que este ‘corpo mental-concreto’ (ou ‘corpo causal’) seria a sede do Intelecto.

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Relaciono este ‘plano mental-concreto’ (ou ‘corpo causal’) ao que André Luiz citou como ‘corpo mental’ – mesmo com formas finíssimas, ainda são formas o delimitando (“bolas de luz”, como AL os descreveu, possuem, mesmo que quase imperceptível, formas, contornos; de outra forma seriam apenas ‘luz’).


Aqui, uma observação rápida. Muitos espíritas entendem o “plano mental” como o plano do Espírito, o que (comparando-se com este modelo oriental trazido) não deixa de ser verdade, uma vez que a Mônada efetivamente manifesta-se ‘diretamente’ em Manas (plano 5).


Por fim, aplicando as sub-divisões em camadas ao plano físico, tem-se nas suas quatro camadas mais sutis o ‘duplo-etérico’. 

Também aqui, alguns autores preferem “separar” essas quatro camadas num corpo específico, chamado de ‘corpo etérico’ (‘linga sharila’ dos hindus, que significa ‘corpo das sensações’); deixando as 3 ‘camadas’ mais densas (‘sólido’, ‘líquido’ e ‘gasoso’) serem denominadas como o corpo físico propriamente. 

Pessoalmente, prefiro deixar ‘incluso’ o duplo-etérico no corpo físico (sendo, portanto, pertencente ao plano físico), pois o duplo não serve como instrumento de manifestação ‘independente’ do Espírito – quando o corpo físico é desativado, no desencarne, o duplo-etérico também o é, apenas levando um tempo a mais para ‘defazer-se’ 


Sérgio Renan

Abraços

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